O mercado editorial brasileiro, nos últimos anos, tem atravessado momentos delicados. Não bastasse a vertiginosa transformação do varejo do livro, acentuada pela crise que atingiu duas das maiores redes de livrarias do país, a Cultura e a Saraiva, e também pela entrada da Amazon no mercado tupiniquim, oferecendo descontos impossíveis de serem acompanhados pelas concorrentes nacionais, as editoras, os autores e os demais profissionais envolvidos na produção de obras literárias precisam lidar com uma ameaça silenciosa e quase invisível: a pirataria. A situação chegou a tamanha gravidade que, em dezembro do ano passado, a Associação Brasileira de Direitos Reprográficos (ABDR)...
O pulo da manga e a carta do gato
"Estou escrevendo um livro e não sei como publicar." Já perdi a conta de quantas vezes escutei isso nos últimos vinte anos. São pessoas que desejam o caminho das pedras, o pulo do gato, a carta na manga e imaginam que eu já dominei todos esses clichês, pois estou envolvido no mundo editorial há bastante tempo. Curiosamente, a maioria das pessoas que me faz a tal pergunta deseja publicar obras em áreas sobre as quais eu não entendo patavina: um guia sobre educação financeira para crianças, um livro sobre como organizar as gavetas e prateleiras, um manual de costura inspirado...
Livro: coisa de pegar, mexer, fuçar
Sempre tive mãos vorazes. Gulosas. Curiosas. Gosto de tocar nos objetos, sentir as texturas, os materiais, o calor ou frio das coisas. Me dá muita aflição entrar numa loja cheia de placas do tipo "favor não encostar" ou "não mexer nos artigos expostos". Não esqueço uma vez que entrei numa loja de instrumentos musicais e deparei com a inacreditável placa "proibido tocar". Nas livrarias, detesto esses livros que vêm plastificados e não deixam a gente dar uma mísera folheada. Até entendo uma livraria virtual que vende os livros lacrados, "imexíveis" (como dizia, nos anos 90, um ministro do governo Collor)....
O estopim da crônica
Toda terça, quinta e sábado, tinha crônica do Carlos Drummond de Andrade na última página do caderno de cultura. Minha mãe conta que eu acordava antes das seis e corria pro portão de ferro, onde o jornaleiro, de moto, lançava o Diário da Tarde, enroladinho. Eu tinha oito, nove, dez... quinze, dezesseis anos... e a minha primeira leitura era sempre a crônica do Drummond. O jornal tinha outros cronistas, claro, mas Drummond era o que mais me fascinava. Como conseguia escrever crônicas divertidas, surpreendentes, poéticas (às vezes as três coisas no mesmo texto) três vezes por semana? Como escrever mais...